Crônica da professora Lilian

UMA TRAGÉDIA

Sete e vinte da manhã. Estávamos prontos, meu marido e eu para sairmos ao trabalho.    

Havíamos acordado por volta das seis horas, naquela preguiça de sempre, cada um com o seu pensamento:

- Ah, como seria bom se ficássemos em casa hoje!

Quer dizer, eu tinha esse pensamento,ele talvez.

Mas...

Enquanto ele fazia a barba e se arrumava impecavelmente para ir ao quartel, eu fazia o café para que, juntos, pudéssemos saboreá-lo como sempre, ainda com ar sonolento.

Estando prontos e na hora primeira, saímos do apartamento. Ele primeiro do que eu e eu em seu encalço, ainda com o mesmo pensamento : -Ah, como seria...

De repente umas das chaves que serve para abrir a porta que dá acesso à rua emperrou. Não havia jeito dela dar a sua volta costumeira e deixar-nos passar.

Ficamos a tentar, mas com medo de quebrá-la e sermos acusados de negligentes, pois não havia outra testemunha, ficamos a pensar: - E agora? – quer dizer, eu fiquei a pensar, ele eu não sei , mas acho que foi o mesmo , por causa da expressão: - Não posso chegar atrasado!

Na ânsia dele não chegar atrasado ,bati à porta da casa da síndica, que por sua vez, obviamente, dormia - quem em sã consciência, se não precisa acordar cedo, iria estar acordada às sete horas e vinte da manhã?

Depois de uns minutos que, no meu caso, gostaria que tivesse sido um pouco mais, talvez uma meia hora – já ajudava – a síndica veio abrir a sua porta e eu lhe reportei o acontecido.

Ela, então, com a sua chave foi tentar resolver o problema, mas ele continuava o mesmo: a chave não girava, pois alguém havia trancado mal a porta provocando um rompimento de sequência na abertura normal de uma porta que dá acesso à rua.

Estávamos um pouco apreensivos, pois iríamos chegar atrasados – bem, eu não muito, mas pela expressão do meu marido, sim.

Resolvi ligar para a escola e avisar que, provavelmente, iria chegar atrasada, de repente poderia nem conseguir  chegar, seria uma tragédia, mas fazer o quê?

Teríamos que ligar para o chaveiro que provavelmente só chegaria bem mais tarde e aí, a aula já teria acabado – é , seria uma tragédia, mas fazer o quê?

Todos ficariam presos, impedidos de chegar aos seus serviços, teríamos que voltar para as nossas casas e quem sabe deitarmos novamente e esperar pacientemente o chaveiro chegar, ele seria o culpado por não conseguirmos trabalhar.

Eis que a síndica teve uma ideia, chamou o morador do apartamento DOIS que já estava acordado para sair às oito horas.

Ele veio com um martelinho, mirou na chave que estava colocada na fechadura e BLAM!

Apenas uma martetada e a fechadura voltou ao normal, a chave girou e a porta se abriu.

Eram exatamente sete horas e trinta e cinco minutos da manhã.

Ninguém chegou atrasado ao serviço.

 Foi uma tragédia, mas fazer o quê?

Biografia:

Lilian Christine Iung Soares –  44 anos bem vividos. Casada, mãe de dois filhos, professora de Português e Literatura. Com sonhos realizados , querendo curti-los de forma plena a partir de 2012, por ocasião da aposentadoria de seu marido – logicamente com ele.

Sentindo saudade de seus alunos de Cruz Alta, RS e esperando ser feliz em Joinville- SC.